“Reivindicamos acesso às novas tecnologias”

Recém-empossado diretor do curso de medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – FCMSC-SP, o médico cirurgião e gastroenterologista, Luiz Arnaldo Szutan – que também desempenha as funções de professor do Departamento de Cirurgia e chefia o Grupo de Fígado e Hipertensão Porta na mesma instituição –, fala a respeito dos seus planos à frente de uma das mais renomadas faculdades de Medicina do país e sobre as perspectivas que vislumbra para o ensino médico nos próximos anos.

Quais as principais metas de sua gestão à frente do comando da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo?
Queremos firmar parcerias com instituições acadêmicas internacionais para dar oportunidades a alunos – de diferentes níveis – e professores de realizarem estágios e se aprimorarem. Pretendemos também implementar um centro de simulação para treinamento de procedimentos inva¬sivos e novas tecnologias, antes de sua aplicação hospitalar; aumentar as atividades de pós-graduação Latu Sensu e Educação Médica Continuada; e, principalmente, estimular a pesquisa, colaborando com os pesquisadores na busca de recursos, tanto para aplicação na infra-estrutura quanto para subsidiar os estudos clínicos e as cadeiras básicas. Além disso, daremos amplo apoio às atividades sociais desenvolvidas pelos alunos.

Qual sua avaliação sobre o atendimento médico na Santa Casa?
A Santa Casa de São Paulo presta assistência à população em todas as especialidades médicas, pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Dificuldades existem, porém, graças ao esforço de seus profissionais e à filosofia da instituição em atender a todos da melhor maneira possível, acredito que atualmente mantemos um bom padrão de atendimento.

Em sua opinião, faltam verbas?
Sim, o principal problema está na crônica situação da falta de recursos. Infelizmente o valor de remuneração dos procedimentos está aquém daquele efetivamente gasto em um padrão elevado de assistência médico-hospitalar.

Na Santa Casa, as especialidades cirúrgicas estão bem estruturadas?  
As especialidades cirúrgicas estão bem estruturadas. A principal reivindicação diz respeito ao acesso às novas tecnologias, nem sempre possível em função da necessidade do alto investimento, incompatível com a disponibilidade dos recursos.

Há muita gente na fila de espera para transplantes no Brasil?
No Estado de São Paulo, por exemplo, aproximadamente 2.500 pacientes aguardam por um transplante de fígado (os números exatos estão disponíveis na Secretaria de Saúde). Mas acredito que as regras atuais para o ingresso na fila estejam adequadas à nossa realidade. A meu ver, o principal problema é o pequeno número de captações em relação ao potencial existente.

Quantos transplantes a Santa Casa realiza por ano?
A Santa Casa realiza anualmente em torno de 20 a 25 transplantes de fígado, um número que considero satisfatório diante das dificuldades na captação de órgãos que temos atualmente.

No campo da gastroenterologia, há estudos indicando que a cirurgia metabólica pode ser muito promissora para a cura do Diabetes Melito. O senhor conhece esses estudos?
A cirurgia para a potencial cura do diabetes ainda é um procedimento em avaliação, devendo somente ser realizada em instituições universitárias, sob rigoroso protocolo científico.

Em sua opinião, o ensino médico brasileiro atende às exigências para formação de bons cirurgiões?
O ensino médico, tanto na graduação quanto na residência, apresenta variação importante. Existem excelentes instituições e outras sem a menor condição de ensino. Cabe, então, às nossas associações representativas e órgãos responsáveis definirem critérios para avaliação das mesmas, e regras para avaliar a continuidade ou fechamento das incompetentes.

Conforme estudo do Cremesp, há carência de vagas em residência no país. Como está a oferta de vagas na Santa Casa? Há perspectivas de aumento desse número?
A Residência Médica na Santa Casa tem um número de vagas adequado ao número de leitos, pacientes atendidos e professores. A responsabilidade de sua coordenação é da Comissão de Residência Médica (Coreme), vinculada à Diretoria Clínica do hospital. Acredito que não existam, no momento, estudos de aumento importante no número de vagas.

Qual sua opinião sobre o Exame do Cremesp para avaliação do ensino médico?
É óbvio que apenas um exame, mesmo quando realizado com critério e responsabilidade, não consegue definir a avaliação de um médico ou escola de medicina. De qualquer modo, a meu ver, é um bom instrumento para cada escola ter como uma das avaliações externas. Tem nos ajudado a discutir e avaliar  o resultado de nossos alunos e a tomar decisões que, entendo, têm aprimorado o ensino em nossa faculdade.

Qual sua opinião sobre a revalidação de diplomas de médicos formados no exterior?
A revalidação de diplomas médicos, a priori, deveria ser desestimulada. Temos muitos bons médicos formados no Brasil, com dificuldades de inserção no mercado de trabalho e, salvo raras exceções, a revalidação é de médicos formados em centros com padrão inferior a muitos centros brasileiros.

Como o senhor analisa a criação de um Exame de Habilitação para o exercício da Medicina, discutido recentemente em audiência pública pela Comissão de Seguridade Social e Família?
Em relação ao exame de habilitação médica, neste momento, sou contra. Entendo que seja mais importante criar um modelo para avaliação das escolas médicas.