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HISTÓRIA DA MEDICINA
Você conhece Alcméon de Crotona? Acompanhe a história do avô da Medicina, por José Marques Filho


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Edição 39 - Abril/Maio/Junho de 2007

HISTÓRIA DA MEDICINA

Você conhece Alcméon de Crotona? Acompanhe a história do avô da Medicina, por José Marques Filho


Alcméon de Crotona, o avô da medicina

Doutrinas de Hipócrates são tributárias de teorias formuladas por médicos-filósofos

José Marques Filho*

O maior feito do pensamento médico grego foi o grande salto para a compreensão da natureza e seu papel na maneira como as doenças se manifestam. Segundo o médico e historiador espanhol Pedro Laín Entralgo, esse pensamento permitiu a visão do cosmos e do homem distinta daquela que a humanidade havia conhecido até então. A interpretação do mundo era pura cosmogonia e a explicação mítica predominava. Boa parte dessa colossal tarefa deve-se ao médico e filósofo Alcméon de Crotona. Contemporâneo de Pitágoras, porém bem mais jovem, ele viveu no século VI a.C. Provavelmente foi discípulo da tradicional escola médica de Crotona e ligado à doutrina pitagórica, sendo o médico de maior destaque do período pré-socrático.

Apenas recentemente a obra de Alcméon de Crotona foi reconhecida como fundamental para a doutrina hipocrática. Do conhecimento filosófico ao médico há uma notável transição. A medicina filosófica faz essa passagem – sendo a precursora da medicina hipocrática que florescerá a partir do século V a.C.

De acordo com Ivan Frias, médico e filósofo brasileiro, as doutrinas médicas do período hipocrático são tributárias de teorias formuladas principalmente pelos médicos-filósofos Alcméon de Crotona, Empédocles de Agrigento e Diógenes de Apolônia. Alcméon de Crotona é o autor da primeira doutrina médica ocidental sobre o binômio saúde-doença.

Nos primórdios, a arte médica dependeu dos aportes teóricos da filosofia da natureza dos pré-socráticos. A medicina científica nasceu pelas mãos da filosofia, com Tales de Mileto, também no século VI a.C. Nesse período, as confusas doutrinas começam a ser fundamentadas em um sistema que investiga a razão dos fenômenos na natureza, procurando leis que os regulem. Compreende-se que há entre as ciências uma indestrutível correlação. Embora não se esclareça o grau desse vínculo, rasga-se um novo caminho para a sua compreensão. A grande escola filosófica à qual Aristóteles deu o nome de Itálica, forneceu a mais importante base para a medicina científica. E, antes da chegada de Pitágoras à Crotona, havia uma escola de medicina importante que certamente criou terreno para o desenvolvimento da sua doutrina. Os pitagóricos recorreram a dez pares de opostos para definir o real. Já Alcméon – que provavelmente pertenceu ao círculo pitagórico – definiu o binômio saúde-doença referindo-se a potências opostas que, misturadas de forma equilibrada no interior do corpo humano, conferem ao mesmo o estado de saúde.

Restaram apenas fragmentos das obras médicas e filosóficas de Alcméon. É possível que ele seja autor de algumas doutrinas do Corpus Hipocraticum. Ele construiu as bases da medicina científica por meio da dissecação de animais – sendo discutível que a tenha realizado em corpos humanos.

A teoria humoral das doenças, que ele foi o primeiro a enunciar, reflete a influência da doutrina pitagórica sobre a complementariedade dos opostos e também de Empédocles de Agrigento (os humores do corpo são: a bílis amarela, o sangue, o fleugma e a bílis negra). “A maior parte das coisas humanas ocorre aos pares”; “A saúde é a igualdade dos direitos das funções úmido-seco, frio-quente, amargo-doce e todas as demais”; “A causa das doenças é o predomínio de um desses sobre todas as outras”; “A saúde é a mescla harmoniosa das qualidades (isonomia)”.

Assim, a teoria humoral das doenças consta de dois postulados básicos. Primeiro, que o corpo é formado por um número variável, mas finito e quase sempre quatro, de líquidos ou humores diferentes. Segundo, que a saúde é o equilíbrio dos humores; e a doença, o predomínio de algum sobre os demais.

Dedicado à medicina e às ciências naturais, ele desenvolveu teoria sobre a origem e os processos fisiológicos das sensações, sugerindo que os sentidos estariam ligados ao cérebro. Foi o primeiro a relacionar o cérebro às funções psíquicas, ao descobrir, por dissecação, que certas vias sensoriais terminavam no encéfalo. Atribui-se a Alcméon a frase “O homem distingue-se dos demais seres por ser o único que compreende, pois todos os demais percebem, mas não compreendem”.

Também foi predecessor da dissecação da Trompa de Eustáquio, dos nervos óticos e do olho, que dizia ser feito de água – vinda do cérebro – e fogo. Na embriologia descreveu a cabeça do feto como a primeira parte do corpo a se desenvolver. Antes de qualquer outro médico, conseguiu distinguir o que hoje chamamos de artérias e veias, além de explicar fisiologicamente o sono, o acordar e a morte.

Nas obras de Alcméon encontram-se as primeiras idéias de constituição individual e sua influência sobre as doenças, além da importância do meio ambiente para o seu desenvolvimento. Suas teorias filosóficas foram transmitidas sob a forma de comentários e doxografia, principalmente por Aristóteles (384-322 a.C). A ele se atribui a bela frase: “Das coisas invisíveis têm clara consciência os deuses, a nós humanos, nos é permitido apenas conjecturar”.

Esse notável médico dizia que a alma é uma substância que move a si mesma num eterno movimento e, por isso, imortal e semelhante aos deuses. Para alguns autores, essa teoria teria influenciado a doutrina da alma desenvolvida por Platão no Fedro.

Embora Platão não tenha mencionado o autor, a teoria que atribui ao cérebro o centro das sensações, encontra-se numa passagem de Fédon. Sócrates, dirigindo-se a Cebes, declara: “Muitas vezes detive-me seriamente a examinar questões como esta: se, como alguns pretendem, os seres vivos se originam de uma putrefação em que tomam parte o frio e o calor; se é o sangue que nos faz pensar, ou o ar, ou o fogo, ou quem sabe se nada disso, mas sim o cérebro, que nos dá as sensações de ouvir, ver e cheirar, das quais resultam por sua vez a memória e a opinião, ao passo que destas, quando adquirem estabilidade, nasceria o conhecimento.”

A obra médico-filosófica deste pioneiro das ciências e a sua fundamental influência na doutrina do grande mestre Hipócrates, assim como nas teorias de filósofos do porte de Sócrates e Platão, o tornam merecedor do título de “avô da medicina”, em reconhecimento à sua fundamental contribuição para a origem da arte médica ocidental.

Os gênios nunca estão sozinhos

Não pode ser considerado acidental que conhecimentos de vários lugares e de diferentes povos reúnam-se em determinado tempo e local encontrando quem lhes dê síntese e grandeza

A civilização não surgiu por acaso. Não pode ser considerado acidental ou um golpe de sorte que conhecimentos e experiências recolhidos de vários lugares e de diferentes povos reúnam-se encontrando quem lhes dê síntese e grandeza. Se o valor de uma civilização pertence ao coletivo, também a biografia de um homem, por mais genial que seja, não é a história de um único ser humano, mas de todos os que vieram antes e dos que o acompanharam em seu tempo.

A história da civilização helênica é um exemplo de quanto a natureza, com uma geografia favorável, a suavidade do clima, mares e colinas de extraordinária beleza, em conjunto com as características de um povo –  por exemplo, a tolerância religiosa e o temperamento instável – e a troca de experiências com culturas distantes podem permitir um salto gigantesco na evolução.

No período áureo da Grécia, quando historiadores, artistas e pensadores sintetizavam o ideal helênico em obras e na oratória, a medicina também irrompe amalgamada na grande renovação. Originárias das mais longínquas culturas, as correntes de pensamento juntam-se em Atenas. Os helênicos semearam colônias desde o Rio Nilo ao Mar Negro, da Sicília à costa meridional da África. A intensa navegação e o comércio, em que  navegadores, negociantes e sábios tornaram-se interlocutores de hábitos e costumes, permitiram um intercâmbio para a civilização.

Toda essa riqueza concentrou-se no país dominador, mais favorecido pela natureza. E, por que não – pelos deuses – tornando a Grécia o palco dos acontecimentos que mudariam radicalmente a visão do homem. Na história da antigüidade é impossível separar a medicina dos outros ramos do pensamento. A arte médica surge fortemente vinculada à filosofia, à teologia e às artes em geral.

O mestre Hipócrates (século IV a.C) dominou as escolas médicas e os médicos de seu tempo. Elevou-se acima da medicina sacerdotal e reuniu em sua pessoa, idealizada através dos séculos, todos os conhecimentos do passado. Caminhando para novas investigações e conceitos, por meio de seus métodos e doutrina, ele se impôs como o pensamento médico mais completo da civilização ocidental. Com o fulgor de uma estrela, sempre fez jus ao título de “pai da medicina”.

Castiglione declara que a síntese da grandeza e importância do maior médico de todos os tempos pode ser resumida no fato de ter Hipócrates demonstrado que a doença é um processo natural, que seus sintomas são reações do organismo à própria doença e que o principal papel do médico é ajudar as forças naturais do organismo. A grande reputação de Hipócrates deve-se às suas obras, que constituem o Corpus Hipocraticum. A crítica histórica pôde, nas últimas décadas, distinguir nessa grande coleção de escritos médicos alguns que se originaram de autores de épocas e escolas diferentes, outros que podem ser atribuídos ao próprio mestre (os melhores) ou àqueles que eram discípulos muito chegados, como seu genro Pólibo.  O número de escritos do Corpus Hipocraticum varia muito de acordo com os critérios empregados. Émile Littré, certamente o mais autorizado dos estudiosos e intérpretes de Hipócrates, conta 53 assuntos e 72 livros. A maioria dos historiadores posteriores aderiu a estes números.

* José Marques Filho é reumatologista e conselheiro do Cremesp.



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