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CAPA

PONTO DE PARTIDA (SM pág. 1)
Em Editorial, Henrique Carlos Gonçalves enfatiza a importância de realizar um amplo debate para atualização do Código de Ética Médica


ENTREVISTA (SM pág. 4)
Acompanhe entrevista com psicanalista e escritor...


CRÔNICA (SM pág. 10)
O cronista Tutty Vasques, convidado desta edição, nos brinda com texto inteligente e - como sempre - muito bem humorado


CONJUNTURA (SM pág. 12)
Dados sobre asfixia perinatal durante a última década mostram que esta foi a causa de morte em 23% dos óbitos neonatais no Brasil


HISTÓRIA DA MEDICINA (SM pág. 16)
O coração sempre ocupou papel de grande importância no simbolismo relacionado ao homem


DEBATE (SM pág. 20)
Na pauta das discussões, a (necessária e inadiável) revisão do Código de Ética Médica


EM FOCO
Saúde feminina é mais suscetível ao alcoolismo e sedentarismo, segundo importantes indicadores de saúde


HOMENAGEM
É preciso lembrar o médico nefrologista que marcou, com coragem e idealismo, a história do movimento médico no país


LIVRO DE CABECEIRA (SM pág. 33)
O destaque desta edição é, de fato, imperdível: A Verdade Sobre os Laboratórios Farmacêuticos, de Márcia Angell


CULTURA (SM pág. 34)
Acompanhe uma análise do simbolismo das telas de René Magritte, realizada pelo psiquiatra e psicanalista Carlos Amadeu Byington


HOBBY DE MÉDICO (SM pág. 38)
Acredite: ortopedista utiliza filadores externos para produzir peças pra lá de curiosas...


TURISMO (SM pág. 40)
Se você nunca ouviu falar no Atacama, este é o momento de arrumar as malas em direção ao... Chile!


CARTAS & NOTAS (SM pág. 47)
Todas as referências bibliográficas das matérias desta Edição você encontra aqui


POESIA
O Fogo e a Fé, poesia de Fátima Barbosa, fecha, com emoção, as matérias deste número


GALERIA DE FOTOS


Edição 44 - Julho/Agosto/Setembro de 2008

TURISMO (SM pág. 40)

Se você nunca ouviu falar no Atacama, este é o momento de arrumar as malas em direção ao... Chile!

De São Paulo ao Atacama,
y un poquito más

Médico relata sua aventura por terra até o Chile

Caio Seixas Soares*

Tudo o que li antes de ir ao Atacama, extremo norte do Chile, não chega perto do que se vê naquele instigante deserto, considerado o mais alto e mais árido do mundo. Muito frio à noite e, durante o dia, muito calor e sol forte. Quase não chove na região, as nuvens formadas por correntes marítimas do Pacífico não conseguem chegar ao deserto, por causa de sua altitude de 2.450 metros. É o lugar na Terra que passou mais tempo sem presenciar chuvas –  com períodos de até 400 anos sem registro de precipitações. O índice pluviométrico não passa de dois milímetros... por ano!

Planejar uma expedição de carro de São Paulo até o Atacama (y un poquito más) requer muita disposição, além de cuidados com a documentação e equipamentos, para eventuais quebra mecânica, nevasca, adoecimento, mudança de rota etc. Afinal, a viagem de ida e volta somam 11 mil quilômetros. Eu e a Lú, minha mulher e companheira de aventuras, iríamos percorrer cada um deles.

Quando decidimos por esse destino, faltava um mês para a viagem. Levantamos informações a respeito da rota, conseguimos mapas, uma reforçada caixa de primeiros-socorros, radioamador, GPS, Ipod, caixa térmica, estepe extra, mangueiras, líquido anticongelante a base de glycol (para radiadores), óleo, água, fluídos, abraçadeiras, cabos para reboque, lanternas, ferramentas, celular, hidratante, protetor solar, óculos escuros, máquina fotográfica, carregadores, binóculos, dois triângulos e um lençol branco. Estes dois últimos são itens obrigatórios nas estradas da Argentina, o lençol (sábana mortuária) serve para cobrir corpos em caso de acidente fatal.

A saída foi bem tranqüila. Às 7 horas da manhã de um sábado frio, no início do mês de junho, saímos de São Paulo rumo a Foz do Iguaçu – com parada final no Hotel da Luz, ao lado da rodoviária da cidade, com diária de R$ 80,00 para o casal – justíssima para a região. 

Naquele ponto, Atacama ainda estava a 2.500 quilômetros. Seguimos para a Argentina, pelo trecho que foi o mais longo da viagem, 1.400 quilômetros numa das mais desérticas estradas, o famoso Pampa del Infierno. A estrada é uma grande reta, sempre plana e sem qualquer alteração na paisagem, a região é amedrontadora, às vezes sem sinais de civilização por 300 quilômetros. Dormimos na cidade de El Galpón, num hotel que pode ser considerado top entre os piores do mundo! Difícil e desnecessário descrevê-lo.

A essa altura vale uma dica, postos YPF têm melhor estrutura para quem viaja, além de bons (e baratos) mapas da Argentina. Outra dica: não abasteça em cidades próximas às fronteiras, vai sair mais caro devido à política protecionista do país vizinho.

Iniciamos mais um dia de aventura. Passamos pelas cidades de Salta e Jujuy, seguindo em direção ao paredão coberto de neve conhecido por Cordilheira Andina. Iríamos sair de 500 para 4.800 metros de altitude em cerca de uma hora. Levamos um cilindro de oxigênio, que não utilizamos no final das contas. Mas a subida foi estonteante! As paisagens começam numa floresta de pinus, passam por um desfiladeiro ocre esbranquiçado que levam a um planalto, premiando-nos com um pôr-do-sol já com vista para o Salar de Atacama. Ali tudo adquire tons e cores que o photoshop gostaria de oferecer.

Há duas alternativas para se chegar a San Pedro de Atacama, os pasos (caminhos) Sico e Jama. A distância é praticamente a mesma, o que muda é o solo.  O Paso Sico é de terra com pedregulho e o Paso Jama está 100% asfaltado, o que rende algumas horas a menos, mas se perde em paisagem. Era noite quando passamos pela fiscalização fronteiriça sem parar – não havia sinalização, nem cancela – o que nos rendeu uma dor de cabeça na saída do Chile.

Nossa chegada em San Pedro no final do terceiro dia de viagem merecia um brinde! Para comemorar, paramos o carro na praça central, há poucos metros da entrada da cidade. Rapidamente conhecemos a eficiência da polícia chilena. Estávamos estacionados no centro histórico, onde é proibida até a circulação de veículos motorizados, quanto mais estacionar. Os carabineros do Chile são educados e objetivos – uma corporação nacional fortíssima, que muito orgulha aos chilenos.

San Pedro é a base para se conhecer todas as maravilhas que o Atacama oferece, há várias opções de hospedagem e alimentação. É possível hospedar-se em hotéis da categoria do Explora Atacama, com diárias que beiram os mil dólares; ou em locais mais simples, e não menos aconchegantes, como o Residencial Chiloé (US$ 50,00 para o casal). Não é luxuoso, mas espaçoso, limpo e bem silencioso. Apenas o vento constante uiva alto.

Situada a 2.440 metros acima do nível do mar, San Pedro é um oásis. O verde no entorno é fruto do sistema de canais que sai do centro da cidade e se estende pelas ruelas. A localização estratégica fez florescer nesse lugar a cultura dos atacamenhos, cujos ancestrais chegaram à região há mais de 11 mil anos. É o centro da cultura atacamenha e importante centro inca, composta por um cenário monocromático de ruelas de chão batido e casas de adobe, tudo com cor e odor de terra. A cordialidade dos habitantes salta aos olhos. Na praça central – a mesma dos carabineros – está a Igreja de San Pedro, lindamente alva por fora e colorida por dentro, construída em adobe no início do século XVII, com piso da árvore algarrobo e teto de tábuas do quase extinto cacto gigante cardón. A pequena e agitada rua Caracoles, também de terra, é point de turistas do mundo inteiro. Restaurantes, bares, lojinhas, mercado e o agito dos jovens dão muito charme a essa cidadezinha no coração do deserto.

Lhamas, vicunhas, flamingos e alpacas também vivem na região, criados pelos descendentes dos nativos pré-colombianos. Para quem gosta de história, a Faculdade de Ciências Naturais, que abriga o Museu Del Padre Le Paige – com múmias de dois mil anos, deixadas pelos Chinchorros, os mais antigos habitantes da área – conta a história dos atacamenhos. Entre os povos índigenas que viveram por lá, os principais eram os Aymarás e os Chincorros –  além dos Incas, que vieram alguns séculos depois.

Os arredores de San Pedro podem ser visitados por conta própria ou por meio das várias agências que organizam passeios; a Atacama Connection e a Maximin´s são boas, com preços justos. Há muito para conhecer nas proximidades. A Cordilheira do Sal, moldada por chuvas e ventos há milhões de anos, tem diferentes colorações minerais que formam esculturas naturais. A Chuquicamata é a maior mina de cobre à cova aberta do mundo – com 3x4.6 quilômetros de extensão e profundidade de mais de  900 metros.  Os imperdíveis Geisers del Tatio, localizados num planalto a 4.300 metros de altitude, é um campo geotérmico rodeado de altas montanhas que expele vapores do solo, formando nuvens de até 11 metros – nesse dia saia antes das 5 da manhã. O passeio até as belas lagoas altiplânicas Miñiques e Miscanti, formadas pelo degelo, é inesquecível. O viajante também não deve deixar de conhecer Pukara de Quitar, antiga fortaleza inca, ocupada em 1540 pelos espanhóis.

A região ainda abriga três vulcões colossais:  O Lascar tem 5.592 metros de altitude; o Lincabur, com seus 5.916 metros pode ser visto de qualquer ponto do deserto; o Ojos del Salado (6.885 metros) é o mais alto do mundo. Mas ainda há muito mais para encher os olhos. O Valle de la Luna, que fica no meio da Cordilheira do Sal, merece mesmo esse nome. O mesmo podemos dizer do Valle de la Muerte, de terreno arenoso e montanhoso (quase ficamos por ali). O Salar del Surise é povoado por flamingos; nas Termas de Puritama, as águas com propriedades medicinais têm temperaturas que variam entre 25 e 30ºC. Outra atração imperdível, que carece de reserva antecipada, é o Space Obs, passeio noturno de microônibus que sai de San Pedro até um observatório no meio do Salar de Atacama, onde se tem uma aula de astronomia com um suíço vestido de astronauta munido de várias lupas e telescópios poderosíssimos.

No Valle de la Luna só há pedras, areia e cristais de sais. Nada respira, não há plantas ou animais. A sensação é a de estarmos em outro planeta. Ao alvorecer, próximo à duna, um grande movimento de turistas estacionando carros ou bicicletas para buscar um ponto estratégico em cima da rocha indica que há mais para ver naquele lugar: o nascer do sol é um show da natureza. Após escutarmos instruções do guarda-parque, seguimos para o lado oposto, em cima de outra rocha, com vista de 360° da região, com o Licancabur ao fundo!

Tudo isso se percorre em quatro ou cinco dias. Havia ainda a possibilidade de se fazer um passeio de três dias ao Salar do Uyuni, na Bolívia, mas como não era recomendável ir com o próprio carro, optamos por Santiago, 1.500 quilômetros ao Sul, descendo a Ruta Panamericana (que vai até Ushuaia) pela Costa do Pacífico.

Em dois dias estávamos na capital chilena – dormimos uma noite em La Serena, um balneário aconchegante, chegando na seguinte noite. Como não havíamos planejado ir até lá, não tínhamos idéia por onde entrar na cidade. Como ETs, fomos “aterrissando” no centro de Santiago com nossa nave (um Defender coberto de terra e uma bandeira do Brasil). Pensamos em ficar dois dias na capital do Chile, mas logo no café, conversando com o garçom sobre nosso plano de ir à cidade argentina de Mendoza – que está a 540 quilômetros de Santiago, cruzando a cordilheira – ele avisou: “vai começar a chover dentro de algumas horas e sempre que isso acontece neva bastante na estrada”. Ou saíamos imediatamente ou poderíamos ficar presos por alguns dias. Jogamos tudo dentro do carro e saímos na correria, assustados com a idéia de ficar presos na nevasca, que já era visível desde a base do cordão de montanhas.

Durante a subida paramos forçadamente para comprar cadenas (correntes), item obrigatório no veículo nesse trecho durante o inverno. Estava achando um absurdo pagar 100 dólares por algo que nunca iria usar. Nunca? Ledo engano. No meio da estrada Caracoles (que tem este nome pela tortuosidade da pista) a neve deu o ar da graça. E quase da desgraça. Nosso carro foi o penúltimo a atravessar a fronteira, sob forte recomendação do carabinero para que ficássemos. Mesmo assim, optamos por prosseguir, com alguma coragem, muita fé e um par de cadenas que àquela altura valia qualquer dinheiro. É impossível andar na neve sem elas nas rodas.

Foi um sufoco, mas valeu a pena, no caminho vê-se o pico do Aconcágua e o vilarejo de Puente Del Inca. Depois, soubemos que a estrada ficou fechada por sete dias.    

A descida da cordilheira é incrivelmente linda. Mas, na fronteira com a Argentina, tivemos de explicar detalhadamente aos carabineros o motivo pelo qual não tínhamos carimbado os passaportes na entrada do Chile. Um dos policiais chegou a sugerir até que voltássemos os quase dois mil quilômetros para carimbar a entrada! Passamos… ufa!

Mendoza merece ser patrimônio da humanidade. E o é. Hospitalidade, cortesia, alegria de viver, ótima comida, vinhos incríveis e preços convidativos. Tudo isso somado a um clima agradável tanto no verão como no inverno.Visitamos algumas vinícolas, com destaque para a de Carmelo Patti, imigrante italiano que herdou do pai duas qualidades: a arte de fabricar vinho e o desapego. Seu vinho é um dos mais desconhecidos do mundo, ele não vende para grandes empresas. Quando passamos por lá estava vendendo a safra colhida em 2002, que havia chegado ao punto cierto.

As próximas só sairiam ao público quando o seu paladar determinasse. De Mendoza a Buenos Aires segue-se por uma estrada de 1.014 quilômetros, metade em pista dupla, bem sinalizada e com bons postos a cada 100 quilômetros. Da capital argentina, subimos pela Ruta 12 até Foz – nesse trecho a polícia argentina é exigente, cuidado. Querem ver tudo, documentos e equipamentos. Qualquer equipamento ou engate que ultrapasse os limites do carro não é permitido. Aproveitamos a segunda passagem por Foz para conhecer o Parque Nacional do Iguaçu.

Chegamos em casa 23 dias após o início da viagem, com 11 mil quilômetros rodados, 1.300 litros de óleo diesel gastos, três países, uma nevasca, um deserto, duas travessias pelos Andes – tudo isso temperado pela aventura de vencer o desafio do desconhecido. O Alaska que nos aguarde, mas essa será outra história....

Dicas do autor

Documentação: RG emitido a menos de dez anos ou passaporte atual (melhor o passaporte). Documentos do veículo são mais solicitados pelos policiais nas fronteiras ou estradas que a própria Carteira de Habilitação. É importante o veículo estar registrado em nome de um dos viajantes, caso contrário será necessária autorização do consulado, entre outras exigências. A Carteira Internacional de Habilitação não é obrigatória, devido ao Tratado do Cone Sul PACU – Paraguai, Argentina, Chile, e Uruguai. 
Fuso Horário: No inverno, o deserto de Atacama está uma hora atrasado em relação ao horário de Brasília. Durante a vigência do horário de verão brasileiro, são duas horas a menos.
Moeda: Um dólar equivale a aproximadamente 450 pesos chilenos.
Energia Elétrica: 220 volts

Procure as embaixadas (ou consulados) do Chile e Argentina no Brasil antes de iniciar a viagem para informar-se sobre as exigências de documentação.

*Caio Seixas Soares é médico, formado pela Faculdade de Medicina da USP, com especializações em Administração de Sistemas de Saúde e em Bioética pela FMUSP e pós-graduado em Administração em Sistemas de Saúde pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).


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