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PONTO DE PARTIDA (pág. 1)
Compromisso com a população e a classe médica


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Ian Frazer


CRÔNICA (pág. 10)
Parece Mentira. Só que não...


CONJUNTURA (pág. 12)
"O oposto da paz é fanatismo e morte"


ESPECIAL (pág. 12)
Assistência à saúde atrás das grades


EM FOCO (pág. 22)
Lítio e neuroproteção


SINTONIA (pág. 27)
Pet terapia


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Arte, genética e ciência


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Mundo digital e tecnologia científica


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Adriano Segal


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Tadeu Franconieri


CULTURA (pág. 42)
Aralquém Alcântara


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Cremesp reivindica mais investimentos na Saúde


FOTOPOESIA (pág. 48)
No circo


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Edição 80 - Julho/Agosto/Setembro de 2017

CONJUNTURA (pág. 12)

"O oposto da paz é fanatismo e morte"

“O oposto da paz é fanatismo e morte”

 Ao falar do conflito entre israelenses e palestinos, e de literatura, o escritor Amóz Oz fala do ser humano em geral e do crescimento do número de fanáticos em todo o mundo. Segundo ele, quanto mais complexos são os problemas, mais as pessoas querem respostas simples 

Fátima Barbosa

O escritor israelense Amóz Oz acorda todos os dias às 4 horas da manhã e sai para caminhar pelas ruas ainda escuras de Jerusalém, onde mora. Quase sempre, não vê ninguém. Mas quando percebe uma pessoa, por uma janela iluminada, fica imaginando várias hipóteses: será solidão? Por quê? Se fosse ela, o que faria? “Coloco-me na pele do outro”, disse, durante a conferência Meus livros, meu país, minha política, na iniciativa Fronteiras do Pensamento, em um grande teatro com a plateia repleta, na capital paulista, em junho deste ano. O escritor de 78 anos aproveitou sua passagem pelo Brasil para lançar sua mais recente obra, Mais uma luz, uma coleção de três ensaios.

O desejo de saber o que os outros pensam vem da curiosidade, que, para Amóz, é uma virtude moral. “Quem é curioso é um ser humano um pouco melhor”, observou. “Tentar ver o mundo pelas janelas dos outros nos torna, entre outras coisas, melhores parceiros, melhores cônjuges, melhores motoristas e, até, pode resolver conflitos políticos e ideológicos”, afirmou o autor de De amor e trevas, cuja adaptação para o cinema foi feita por sua conterrânea, a atriz Natalie Portman.

Para Amóz, um dos mais premiados escritores israelenses, a curiosidade, assim como o humor e a empatia, são importantes antídotos contra o fanatismo, “a praga de nosso século 21”. Para ele, o fanatismo está crescendo no mundo todo porque, quanto mais os problemas são complexos, mais as pessoas querem respostas simples. “Elas querem que a culpa seja de alguém. Tem de ter um vilão, e ele tem de ser eliminado”.

Observador arguto e atento ao seu tempo, Amóz equilibra-se em meio ao conflito israelense-palestino e faz da paz e da literatura suas bandeiras. Segundo o autor de Como curar um fanático, a volta do fanatismo, 70 anos após a morte de Hitler, é sua maior decepção. “O que está ocorrendo não é um choque de civilizações, um conflito entre Ocidente e o mundo árabe ou, mesmo, entre ricos e pobres. É um choque entre os fanáticos e o resto de nós”, criticou.

Uma pessoa com senso de humor não se torna fanática, a não ser que perca a graça, observou. Os fanáticos podem ser sarcásticos, mas não conseguem rir de si mesmos, que é o melhor antídoto para o fanatismo. Se eu pudesse, daria comprimidos de humor para eles, pois é uma doença infecciosa. Curiosidade, empatia e compaixão – esclareceu – não significam, necessariamente, aceitar o ponto de vista do outro, nem oferecer a outra face ao inimigo, mas apenas imaginar: e se eu fosse ele? Fanáticos nunca fazem isso, afirmou. “Porém – enfatizou –, o radicalismo tem de ser combatido sem violência, com paciência, explicando, argumentando, pois a História não é só um campo de batalhas de exércitos armados, mas também de batalhas de ideias. Ideias nocivas são vencidas por ideias melhores, não apenas por armas”, completou.

Literatura

A literatura também é um bom meio para combater o gene do fanatismo que existe dentro de cada ser humano, observou Amóz. Quando escreve ficção, ele tenta se colocar no lugar do outro, mesmo de alguém de quem discorda completamente. Para o leitor – afirmou –, uma obra literária também é um convite a imaginar o que pensa e sente a pessoa do outro lado do rio, aquela que está além da montanha, ou, mesmo, a que dorme a nosso lado, na cama, todas as noites.

“Como escritor, às vezes discordo de mim mesmo. Quando não tenho algo de que discorde, não escrevo e, quando escrevo, mudo de ideia muitas vezes. Só escrevo quando não tenho um manifesto a fazer, pois se quero fazê-lo, escrevo um artigo. Eu conto histórias. O dom da literatura é mostrar vizinhos diferentes, é permitir que o leitor perceba como os outros o vêem”, comentou o escritor.

Um personagem seu diz que cada pessoa é um planeta, mas Amóz acredita que a condição humana é ser uma península, que é quase uma ilha, mas com um dos lados unido a um território maior. O “continente” do ser humano seria a família, a sociedade, a comunidade, a religião, o país etc, mas o outro lado, parecido a uma ilha, deve ficar sozinho, enfrentando os elementos que são o mar, as montanhas, a solidão, a morte, a ambição e os desejos. “É a minha fórmula para a vida familiar, para parcerias e amizades, e é a minha fórmula para Israel e para a Palestina. Ninguém é uma ilha, ninguém é um planeta separado, cada um de nós deveria preferir permanecer uma península”, defendeu.

Pragmático, o escritor não acredita em amor universal. “Acho que amar, de fato, a gente ama algumas pessoas à nossa volta, talvez de 10 a 12 delas. Em relação às outras, a gente sente empatia, amizade e, a partir daí, vem o respeito mútuo entre pessoas, comunidades e países”, disse.

É dessa maneira, também, que Amóz analisa o conflito israelense-palestino. “Não creio em utopia, mas em um acordo pragmático. Não acredito em salvação, mas em solução, em uma possibilidade de reconciliação. Sou evolucionista, como um médico de Interior que eu gostaria de ser, aquele que procura resolver o que está ao seu alcance, não fica inventando nada. Tem os pés no chão”.

Israel e Palestina

Israel e Palestina formam um país muito pequeno, principalmente em relação a outros como o Brasil, lembrou o escritor. Mas, destacou, é o único país dos judeus, onde eles têm seus lugares sagrados. E esse mesmo país, acentuou, é o lar dos palestinos, onde eles têm suas aldeias e cidades, e lá vivem há 15 séculos. “Os dois lados têm argumentos poderosos e ambos estão certos”, apontou.

Por isso, ele não vê alternativa melhor do que a existência de dois Estados. “Simplesmente porque árabes palestinos e judeus israelenses não irão para outro lugar, pois não têm para onde ir. Esse conflito não terá um final feliz. Ou vai acabar com um sofrido acordo ou com um banho de sangue eterno. Essa solução envolve concessões dolorosas para ambos os lados, que terão de abdicar de um pouco de seu passado e de suas aspirações”, argumentou Amóz.

Desde o fim da Guerra dos Seis Dias, em 1967, o escritor defende que construir assentamentos em território palestino é um erro político e moral. “Continuo a achar que foi um grande erro. No entanto, agora, alguns assentamentos são populosos demais para serem simplesmente evacuados. Em alguns casos, seria preciso fazer uma troca de territórios entre israelenses e palestinos. Sou a favor de basear os novos Estados de Israel e da Palestina nas fronteiras de 1967, com algumas modificações mútuas”, comentou.

“Os dois Estados serão como dois apartamentos muito pequenos. Primeiro, seremos vizinhos que, aos poucos começam a se dizer bom dia. Depois de mais um tempo, tomam um café juntos, e, quem sabe, um dia, podem cozinhar juntos, ter um mercado comum... Mas, que os israelenses saibam que aquela pequena terra é deles e que os palestinos saibam que aquele é o lar deles, sem dominação de nenhuma parte. Para mim isso é elementar”, defendeu Amóz.

O escritor criticou as pessoas que, fora de Israel e da Palestina, acham que se deve tomar partido de um lado, como nos filmes de mocinho e bandido. “Esse conflito não é um filme de Hollywood. É sobre os que estão certos contra os que estão certos e, às vezes, os que estão errados contra os que estão errados. É cheio de nuances. Por isso, a opção não é tomar partido, mas ficar do lado da paz. É um compromisso doloroso para quem está envolvido no conflito. Muitos jovens acham que escolher o caminho do meio é falta de idealismo e que isso não é honesto. Mas, o oposto é fanatismo e morte”.

Para ele, ser chamado de “traidor” por uma parcela de judeus deixa-o triste e orgulhoso. Triste porque muitos israelenses não entendem suas ideias ou não as aceitam. E orgulhoso por que “eles me colocam em muito boa companhia, ao lado de alguns dos grandes escritores, poetas, profetas, intelectuais e estadistas na História, que foram chamados de traidores por seus próprios contemporâneos; gente que esteve à frente de seu tempo”.

No final, Amóz deu uma boa notícia para a plateia, que segundo ele, a mídia não publica porque está sempre ocupada com os aspectos negativos e não enxerga as tendências: está ocorrendo uma fadiga de ambos os lados do conflito. “E a fadiga resolve muita coisa, até casamentos. Muitos países colocaram fim a conflitos porque todos se cansaram e começaram a ficar caros demais, a se tornar intoleráveis. Acredito que um dia, israelenses e palestinos darão risadas juntos. A paz não é uma utopia”, concluiu.

Coragem e força

Amóz Oz nasceu em Jerusalém, em 1939. Sua mãe, Fania, apesar de mulher e mãe amorosa, suicidou-se aos 39 anos, quando ele tinha apenas 12. Aos 15, enfrentou o pai para viver em um kibutz (pequenas comunidades agrícolas ou agroindustriais coletivas), onde completou o ensino secundário e trocou o sobrenome paterno, Klausner, por Oz, que significa “coragem” e “força” em hebraico.

Publicou seus primeiros contos enquanto estudava Literatura e Filosofia na Universidade Hebraica de Jerusalém, entre 1960 e 1963. Participou da Guerra dos Seis Dias e da Guerra do Yom Kippur, e, na década de 1970, fundou o movimento pacifista Paz Agora, favorável à existência de dois Estados, Israel e Palestina.

Amóz é um dos israelenses mais lidos no mundo. Seus 29 livros, entre ficção e não-ficção, foram traduzidos em mais de 40 idiomas. Dentre inúmeros prêmios, recebeu alguns dos mais importantes do mundo como o Goethe (alemão, trienal) e, em 2007, o Prêmio Príncipe das Astúrias (espanhol, anual). Ficou entre os finalistas do prêmio The Man Booker International 2017 (Inglaterra, bienal).


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