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Edição 24 - Julho/Agosto/Setembro de 2003

CULTURA

Arte Naif

b>Arte naïf no Brasil

Jacques Ardies* Definir a arte naïf não é tarefa simples. Cada crítico ou pessoa interessada terá sua visão da abrangência deste estilo. Basicamente, os pintores naïfs recusam a orientação de um professor de Belas Artes. Por falta de oportunidade ou por teimosia, querem encarar a tela branca e expressar-se sem interferência de ninguém. Movidos por uma espécie de impulso e uma vontade vital, estão convencidos de que possuem um talento especial para pintar suas experiências. Isso não significa que escolheram o caminho mais cômodo da aprendizagem, pois terão de superar, por meios próprios, todos os percalços da iniciação.

Poucos conseguem superar tantas dificuldades, mas com obstinação e convicção de sua vocação artística, dedicam o tempo que for preciso para alcançar algum domínio e definir seu próprio estilo. Por conseqüência, apresentam quadros inéditos, às vezes com erros de perspectiva e de simetria, mas com certo perfume de inocência encantador e contagioso. O francês Max Fourny, fundador do Musée D´art Naïf de L´île de France, dizia: “Eles podem apenas inventar a sua linguagem através dos seus próprios meios. Nunca fizeram cursos de formação artística.Todos esses elementos trazem às suas criações, às vezes um certo mau jeito, mas também um charme que nos encanta e que permite guardar intacto a nossa faculdade de maravilhar-se”.

Supõe-se que qualquer pessoa que “pega nos pincéis” poderia ser designada como pintor naïf. Esse pormenor, obviamente, torna difícil a distinção entre um artista de talento, criativo, original e expressivo daquele que se diverte nas horas de lazer ou dos pintores-artesãos, que se aproveitam de uma temática tipicamente regional, oferecendo a preços módicos grande quantidade de quadros idênticos a turistas ávidos por lembranças de viagem.

Críticos preconceituosos confundem autodidatismo com analfabetismo, desprestigiando um movimento que aparenta ser pouco evoluído. É verdade que a criação naïf não faz do rigor técnico a sua maior preocupação e sua leitura não exige prévios conhecimentos intelectuais, mas ela toca nossas emoções sem subterfúgios.

O crítico de arte belga Roger Thilmany, escreveu em seu livro, Criteriologia da Arte Naïf: “Os artistas modernos são submetidos à tirania da originalidade, algo novo a qualquer preço. Já que o Op Art ultrapassou o Pop, este por sua vez está sendo suplantado pelo surrealismo, que já foi passado para trás pelo Hiperrealismo, ficamos na espera da próxima novidade. Na arte, como no esporte, a proeza parece estar ligada demais a uma questão de velocidade. Por conseqüência, entende-se melhor a aspiração a um ar fresco, a volta às origens, para poder escapar da asfixia da repetição, da banalidade e da cerebralização secante, por demais presente nos dia de hoje. Explica-se melhor também, a saudade do bom e velho figurativo e do interesse maior para um movimento inegavelmente original e personalizado: a Arte Naïf”.

A palavra naïf é no mínimo infeliz. Provavelmente, e por falta de sorte, esta definição dá à expressão artística uma conotação negativa, algo infantil, pouco séria ou simples demais. Mas é a palavra que dispomos, adotada no final do século XIX, a partir do surgimento de Henri Rousseau que, sem ter consciência disso, juntou-se ao movimento dos modernistas, expondo no famoso “Salão dos Independentes de Paris”, ao lado de Seurat, Signac, Toulouse-Lautrec, Gauguin e Van Gogh, todos malditos e renegados pela sociedade intelectual da época.

Hoje a arte naïf conquistou espaço no mundo das artes, sendo aceita como um estilo universal. Naive malerei, naive art, arte naïfi ou art naïf, em todos os idiomas respeita-se a etimologia da palavra naïf. Inclusive, foi integrada à lingua portuguesa, não faz muito tempo, pelo novo Dicionário Aurélio.

O artista naïf busca inspiração na sua experiência de vida, por querer matar a saudade de sua terra natal ou por necessidade de demonstrar sua beleza e os momentos intensos de sua infância que, muitas vezes, no caso dos brasileiros, são reminiscências alegres. Invariavelmente, a arte naïf será sempre uma expressão de âmbito nacional, dos usos e costumes da região de cada artista. Países como a França, a Croácia, a Sérvia, o Haiti e, mais recentemente, o Brasil, conquistaram maior destaque no cenário mundial por possuírem um número significativo de excelentes artistas.

No Brasil, o movimento debutou apenas na década de 40, com as primeiras exposições de Cardosinho, Silvia de Leon Chalreo e José Antonio da Silva. A primeira Bienal de São Paulo, no início da década de 50, revelou para o público as obras do pintor e músico Heitor dos Prazeres, considerado o primeiro artista naïf brasileiro. Na segunda Bienal, em 1953, ele foi homenageado com uma sala especial. O movimento brasileiro iniciou seu percurso meio século depois de as obras dos franceses Rousseau, Vivin, Beauchant, Bombois estarem espalhadas por museus do mundo – e talvez seja uma das explicações para o reconhecimento tardio da arte naïf no Brasil. Outra seria o pouco apoio das autoridades culturais, por considerarem essa expressão, paradoxalmente, brasileira demais. Somente a partir da década de 60 a arte naïf brasileira alcança maior notoriedade quando emergem pintores como Elza O.S, Isabel de Jesus, Ivonaldo, Antonio Poteiro, José Sabóia, Tamanini e tantos outros. Atualmente, o país é um dos grandes representantes da arte naïf mundial e o mais promissor em matéria de novos talentos.

O Brasil de enormes contrastes e dimensão continental, com uma cultura re-sultante de inúmeras outras é um canteiro fértil para o surgimento de artistas valiosos e originais. “A importância da arte naïf em nosso país, de ricas tradições populares, está na maneira pela qual os pintores procuram captar uma linguagem brasileira de olhar a realidade ao seu redor. Conseqüentemente, armazenam na memória coletiva do povo uma documentação visual de nossos usos e costumes, comportamentos urbanos e regionais, sem intelectualismo, com a visão simples e sem rebuscamento de quem vê as coisas puras da vida. Suas raízes, enfim”, escreveu o crítico de arte Geraldo Edson de Andrade.

Dentro do cenário da arte naïf mundial, o movimento brasileiro desperta uma procura maior por contar com um número importante de bons artis-tas que conseguem expressar-se de maneira pessoal e original. Cada artista criou seu jeito inconfundível de pintar. Fica relativamente fácil reconhecer as paisagens pernambucanas de Ivonaldo, o agrupamento dos camponeses gordinhos do baiano José Sabóia, as cenas alegres do cotidiano de Porto Feliz de Ana Maria Dias, a densidade da mata fechada do ex- pescador Ferreira ou, ainda, os personagens quentes e sensuais da maranhense Dila.

Brasil em destaque na Europa

O artista naïf Ivonaldo Veloso de Melo recebeu prêmio máximo no Concurso Internacional de Pintura Primitiva Moderna (Prix Suisse et Prix Europe de Peinture Primitive Moderne), realizado anualmente pela Galeria Pro Arte Kasper, em Morges, na Suíça. A Pro Arte Kasper existe há 45 anos e este ano realizou seu 32º concurso. Desde 1982, a Galeria Jacques Ardies inscreve três ou quatro artistas naifs brasileiros nesse importante concurso internacional. Além de Ivonaldo, foram inscritos os brasileiros De Marchi e Edivaldo para o concurso de 2003, que reuniu 69 artistas de 18 países da Europa, América Latina, da África e dos Estados Unidos.

Além do prêmio do júri, constituído por curadores de museus e críticos de arte, o concurso oferece o prêmio do público, definido pelo total de votos dos visitantes que indicam o melhor quadro da mostra. O Brasil nunca havia recebido prêmio do júri antes, porém, ganhou duas vezes o do público com quadros de José Sabóia, em 1992, e de Lucia Buccini, em 1998.

O quadro “A Ladeira”, de Ivonaldo, recebeu o seguinte comentário do júri: “Ivonaldo nos conta aqui, num ambiente tropical, um episódio tirado do cotidiano: Numa plantação de bananas, cercada de densa vegetação, cortada ao meio por um caminho sinuoso, na proximidade de um centro urbano, um homem e uma mulher se abrigam, do sol e dos olhares importunos, sob um guarda-chuva negro. Essa cena cheia de carinho é apresentada num quadro equilibrado, extremamente bem pintado, com cores quentes. O artista também conseguiu transmitir com convicção, a intimidade entre o casal em primeiro plano, assim como, a solidão do trajeto distinto dos outros protagonistas que se encontram em segundo plano”.

* Jacques Ardies é marchand, fundador da Galeeria Jacques Ardies.


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